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CARTAS DE INGLATERRA

bellas paragens classicas abundam em meliantes!) se esvasiava instinctivamente sobre Alexandria, alastrava-a, tornava-a sob o seu bello céo azul-ferrete uma fetida estrumeira social.

Bastava atravessar uma rua, para comprehender o conjuncto dos costumes.

A cada esquina, um café-cantante atulhado d’uma malta enxovalhada, que berra, cachimba, emborca aguardente, emquanto sobre o tablado, por traz da ribalta, uma matrona despeitorada e caiada vae rouquejando um estribilho obsceno... De dez em dez casas um lupanar, separado apenas da rua por uma simples cortina... Por toda a parte o jogo: um sacripanta traz uma pequena roleta, um banco, e no meio da rua installa a batota; em redor apinham-se logo outros sacripantas, e d’ahi a momentos a policia tem de acudir, porque corre sangue...

O viajante de gosto e de educação tinha de fugir bem depressa d’esta atmosphera, refugiar-se n’algum quieto café mussulmano, á beira d’agua tranquilla. Ahi ao menos só havia arabes que fumavam gravemente o seu chibouk, fallavam entre si com pollidez, comportavam-se com dignidade.

Ah! estou d’aqui a vêr a primeira mesa redonda a que me sentei em Alexandria!

Era presidida por um grego de pelle livida, de suissas reluzentes como verniz de sapatos, com um