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CARTAS DE INGLATERRA
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de ter de recomeçar d’aqui a dez annos ou quinze annos; porque nem póde conquistar e annexar um vasto reino, que é grande como a França, nem póde consentir, collados á sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanaticos, batalhadores e hostis. A «politica» por tanto, é debilital-os periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades d’um grande imperio. Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vacca para o leite e dois pés d’alface para as merendas de Verão...

Outra historia melancholica é a da Irlanda. Quem não conhece as queixas seculares da Irlanda, da Verde Erin, terra de bardos e terra de santos, onde uma plebe conquistada, resto nobre de raça celtica, esmagada por um feudalismo agrario, vivendo em buracos como os servos gothicos, vae desesperadamente disputando á urze, á rocha, ao pantano, magras tiras de terra, onde cultiva, em lagrimas, a batata? Todo o mundo sabe isto — e, desgraçadamente, esta Irlanda de poema e de novella é, em parte, verdadeira: além dos poucos districtos onde a agricultura é rica como em qualquer dos uberrimos condados inglezes, além de Cork ou Belfast, que têm uma industria forte — a Irlanda permanece o paiz da miseria, bem representada n’essa estampa romantica em que ella está, em andrajos, á beira de um charco, com o filhinho nos