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CARTAS DE INGLATERRA

lettra o que appareceu publicado no Times seria arruinar para sempre os creditos da Gazeta de Noticias) Sir William prosseguia: «Eu, por mim, estou contente. Acho-me até capaz de uma bella folia! Porque não nos daremos com effeito a uma rica patuscada, com vinhaça e mulherinhas? Oh, as mulherinhas! Senhoras que me escutaes, arremessae chapéus e vestidos, e toca a pandegar e a bater um rico batuque!... Evohé! Viva o deboche! Olé, champanhe! Abracemo-nos, deliremos!...» Isto é só para dar ideia: o que se lia no Times tinha outra crueza d’expressão, outro arranque d’orgia!...

Imaginem o effeito ao outro dia, quando milhares de numeros do Times, contendo esta abominação, penetraram n’esses recatados interiores inglezes, onde (segundo aqui dizem) habita o typo superior da familia christã. O Times, o mais caro dos jornaes, é a folha querida da aristocracia, da alta burguezia, da grande finança. Não se comprehende um gentleman inglez, do padrão classico, sem ter logo pela manhã percorrido conscienciosamente o seu Times: é como o coração mesmo da Inglaterra, que elle sente um momento entre as mãos e onde verifica cada dia, com orgulho, um accrescimo de força, uma pulsação maior de vitalidade. Ordinariamente é ao almoço que se lê o Times: e n’essa manhã, vendo-se na quarta pagina, em lettras grossas, O DISCURSO DESIRWILLIAM