Só estes telegrammas custaram perto de dois contos de reis. Mas o melhor é que apenas se soube a historia da catastrophe, e que o Times comprava por todo o preço o numero maldito — esse numero tornou-se logo um valor, um papel de credito, base de especulação, com cotações no mercado, eguaes, se não superiores, aos fundos de muita nação civilisada. Eu sei d’um restaurante que toma regularmente quatro numeros do Times — e que vendeu os seus exemplares immundos a duas libras cada um.
Realizaram-se, porém, ganhos maiores. O Times não regateia, paga. E até hoje diz-se que em comprar essa fatal edição tem gasto já perto de quarenta contos.
O autor da facecia ainda se não descobriu. É sem duvida, um monstro, e seriamente merece a tremenda sentença com que decerto os tribunaes inglezes o demoliriam, se elle apparecesse. Mas, por outro lado, considerando que quarenta contos são apenas um somma minima para a fortuna do Times, e que esta gazeta austera leva o seu pedantismo e a sua empolada pruderie a sustar, como obscena, a menção sequer dos livros de Zola e de outros realistas, — eu não posso deixar de pensar, com laivos de regosijo, que a Providencia tem armas obliquas e terriveis!