riscando de linhas escuras o continente, indo alastrar os valles do Rheno, negrejando pela neve dos Alpes acima, serpenteando pelos vergeis da Andaluzia, atulhando as cidades da Italia, inundando a França! Tudo isto são inglezes. Tudo isto traz um Guia do Viajante debaixo do braço. Tudo isto toma notas. Isto ás vezes viaja com a esposa, a cunhada, uma amiga da cunhada, uma conhecida d’esta amiga, sete filhos, seis creados, dez cães, e outros cães conhecidos d’estes cães; e isto paga por tudo isto sem resmungar! Não: não digo bem, resmungando sempre. Esta viagem de prazer passa-a quasi sempre o inglez a praguejar (mentalmente — porque nem a Biblia nem a respeitabilidade lhe permitem praguejar alto).
A verdade é que o inglez não se diverte no continente; não comprehende as linguas; estranha as comidas; tudo o que é estrangeiro, maneiras, toilettes, modos de pensar, o choca; desconfia que o querem roubar; tem a vaga crença de que os lençóes nas camas d’hotel nunca são limpos; o vêr os theatros abertos ao domingo e a multidão divertindo-se amargura a sua alma christã e puritana; não ousa abrir um livro estrangeiro porque suspeita que ha dentro cousas obscenas; se o seu Guia lhe affirma que na cathedral de tal ha seis columnas e se elle encontra só cinco, fica infeliz toda uma semana e furioso