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Carta de 2 de Fevereiro de 1822.

Meu Pai, e Meu Senhor — Hontem chegou o Correio, e senti muito não ter tido Carta de Vossa Magestade.

Tenho procurado todos os meios, para que a Divisão auxiliadora parta por bem, porque lhe lenho dito, que assim o exige o socego desta Província ; mas apezar das razões, não querem partir.

Hontem proclamei-lhe um tanto forte; mas o General, que elles elegêrão, que he o Avillez, lhe tem dito, como Vossa Magestade verá dos Officios da Secretaria, que he contra a sua honra obedecerem ; de sorte que não querem embarcar.

O prazo, que lhe dei para embarcarem, he até 5 do corrente ; e se elles o não quizerem fazer, então nem se lhe paga, nem se lhe manda de comer, nem agua; e como elles pela terra dentro não podem entrar, porque estão cercados pela retaguarda, e a meio rio está a fragata União, e barcas canhoeiras, hão de embarcar, ou hão de morrer.

Sinto infinito, que homens, que vierão da Campanha tão victoriosos, e cobertos de loiros, saião daqui cobertos de vergonha , de descredito, e com o ferrete de rebeldes.

O que eu lhe soffri como homem, eu lho perdoo; mas o que lhe aturei como Lugar Tenente de Vossa Magestade, e as offensas a mim feitas directamente a Vossa Magestade indirectamente, cumpre a Vossa Magestade, como Rei, castigalas.

Peço a Vossa Magestade, que faça constar ás Cortes todo este máo modo de proceder da parte da Divisão, para que ellas obrem o que entenderem.

Deos guarde a preciosa vida, e saúde de Vossa Magestade, como todos os Portuguezes hão mister, e igualmenle — Este seu súbdito fiel, e Filho obedientíssimo, que lhe beija a Sua Real Mão — PEDRO.

Habitantes do Rio de Janeiro — Quando a Causa Publica, e Segurança Nacional exigem, que se tomem medidas tão imperiosas , como as ha pouco tomadas por Mim, he obrigação do Povo confiar no Governo. Habitadores desta Província, a Representação por vós respeitosamente levada á Mi-