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NOVOS E VELHOS
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sempre de cigarro no queixo e chapéo na nuca, gingando o nosso proverbial laisser aller, continua a nos mandar no fim de cada anno os livros publicados em janeiro, a titulo de alta novidade (haute nouveauté!..) Faz ella muito bem.

O algarismo annual das nossas producções litte- rarias é de um comico impagavel.

Emquanto Pariz recebe por dia cem, duzentas obras de escriptores francezes, das quaes 20 % podem ser consideradas boas e 5 % excellentes, nós — o Rio de Janeiro — produzimos annualmente cincoenta ou cem (?), das quaes dez soffriveis e cinco boas. Não ha termo de comparação.

Em taes emergencias, que faz a França? Mandanos livros, esgota suas edições, abusando de nossa preguiça e também de nossa boa fé, para não dizer ingenuidade.

Não ha muitos annos, o proprio Zola escrevia estas palavras, — uma verdade frisante como tudo quanto sae de sua penna admiravel: — On m'a conté qu'il y avait, à Paris, certaines maisons dont la specialité êtait d'acheter au poids ces soldes d'exemplaires invendus et de les expédier en Amérique, dans l'extreme Orient, dans les colonies, jusque chez les sauvages, ou elles s'en débarrassent a de très beaux pris, les lecteurs de ces pays lointains êtant peu difficiles et devorant tout ce qui vient de France.

Eis ahi como a França se desentulha de livros inúteis — mandando-os para o Brasil, para a Algeria e até para os selvagens...