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prios complicados,— Coelho Netto não tem ainda um ideal artistico definido e claro. Adora Théophile Gautier no exotismo das concepções, ama Eça de Queiroz no estylo breve e cadenciado, não desdenha Zola, admira as subtilezas femininas de Alphonse Karr e já teve paixão decidida por Catulle Mendés, o malicioso escriptor de Pour lire au bain. A febril actividade com que trabalha, escrevendo ao mesmo tempo contos, romances e chronicas, o prejudica immensamente. O artista não deve nunca obrigar o espirito a acrobatismos impossiveis. Muito methodo e muita calma — eis o que, em primeiro logar, deve presidir ao trabalho artistico. Aluizio e Coelho Netto são, pois, ao meu ver, os dous mais operosos escriptores brazileiros da actualidade, para não falar em Arthur Azevedo, que parece viver agora uma vida de compensações, repousado tranquillamente no alto da montanha... /Si me perguntassem, porém, qual o artista mais bem dotado entre os que fórmam a nova geração brazileira — pergunta indiscreta e ociosa — eu indicaria o autor dos Broquéis, o menosprezado e excêntrico aquarelista do Missal, muito embora sobre mim caísse a cólera olympica do Parnazo inteiro. Erro, talvez, de observação e de critica, mas o certo é que eu vejo em Cruz e Souza um poeta originalíssimo, de uma rara sensibilidade esthetica, sabendo comprehender a Arte e respeital-a, encarando a vida com a independência de quem só tem um ideal — a perfeição artística.