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Um preconceito injusto e tôlo isolou-o dos seus contemporâneos, fechando-lhe as portas do jornalismo, e dahi o revoltado e pessimista implacável, que abre o seu livro com esta solemne invocação de Beaudelaire, feita de odio e orgulho, trespassada de amargura e desprezo :— Seigneur, mon Dieu ! acordez- moi la grace de produire quelques beaux vers qui me prouvent a moi même que je ne suis pas le dernier des hommes, que je ne suis pas inferieur a ceux que je mêprise. Nesta simples citação reflecte-se toda uma alma em revolta, uma alma de poeta mystico alando-se para Deus num desespero immenso contra os homens. Beaudelaire é o seu guia neste inferno da vida, Beaudelaire com o seu rir nervoso e galvanico, Beaudelaire com o seu pessimismo invencivel de superexcitado. Cruz e Souza é um dos pouquissimos que no Brasil têm idéas seguras sobre arte ; temperamento de eleição, natureza complexa expandindo-se em creações admiráveis pela estranha musica do verso ou da phrase, onde quasi sempre o sensualismo canta a epopéa da carne e da Fórma, — elle é um independente, um forte, um insubmisso, que honra as letras nacionaes. Não tem escola ; sua escola é o seu temperamento, a sua indole, e este é o maior elogio que se lhe póde fazer./ Destaca-se ao lado de Cruz e Souza, numa penumbra de modéstia, a individualidade sempre origi-