Amâncio, bebendo aos goles distraídos a sua cerveja nacional, via e sentia tudo isso, e, sem perceber, deixava-se tomar das graças de Amélia. Já lhe preava a carne o mordente calor daquele corpo; já o invadiam o perfume sombroso daquele cabelo e a luz embriagadora daqueles olhos; já o enleava e cingia a doce sensibilidade elástica daquela voz, quebrada, curva, cheia de ondulações, como a cauda crespa de uma cobra.

E, enquanto palavreava abstraído com Mme. Brizard e com Coqueiro, percebia que alguma coisa se apoderava dele, que alguma coisa lhe penetrava familiarmente pelos sentidos e aí se derramava e distendia, à semelhança de um polvo que alonga sensualmente os seus langorosos tentáculos. E, sempre dominado pelos encantos da rapariga, alheava-se de tudo que não fosse ela; queria ouvir o que lhe diziam os outros, prestar-lhes atenção, mas o pensamento libertava-se à força e corria a lançar-se aos pés de Amélia, procurando enroscar-se por ela, à feição do tênue vapor do incenso, quando vai subindo e espiralando, abraçado a uma coluna de mármore.

Coqueiro fazia não dar por isso e, ao topar com os olhos os da mulher, entre eles corria um raio de satisfação, mais ligeiro que um telegrama.

Amâncio, entretanto, quase nada conversou com Amélia; apenas trocaram palavras frias de assuntos sem interesse. Mas seus olhares também se encontravam no ar, e logo se entrelaçavam, prendiam-se e confundiam-se no calor do mesmo desejo.

Naquela mulher havia incontestavelmente o que quer que fosse, difícil de determinar, que não obstante, se entranhava pela gente e, uma vez dentro, crescia e alastrava. O seu modo de falar, as reticências de seus sorrisos, o langor púdico e ao mesmo tempo voluptuoso