de seus olhos que espiavam, inquietos, através do franjado das pestanas; a doçura dos seus movimentos ofídicos e preguiçosos, o cheiro de seu corpo; tudo que vinha dela zumbia em torno dos sentidos, como uma revoada de cantáridas.

Vinham-lhe preocupações. Começava a imaginar como seria a sua existência naquela casa, se ele, porventura, resolvesse a mudança; calculava situações; encontros inesperados com Amélia nos corredores desertos; manhãs frias, de chuva, em que fosse preciso gazear as aulas, e deixar-se ficar ali, a "prosar" naquela varanda, ao lado dela, a encher o tempo, a dizer "tolices".

— Que tal seria tudo isso?... Seria tão bom que valeria a pena suportar às caceteações de Mme. Brizard e sofrer a convivência do tal Coqueiro?... Seria tão bom que mereceria a renúncia de sua liberdade, tão sacrificada ali quanto em casa do Campos? Não! não valia a pena!... Mas... Amélia?... quem sabe lá o que daria de si aquele ladrãozinho?...

E pensando deste modo, ergueu-se disposto a acompanhar Coqueiro, que insistia em lhe mostrar a casa.

Principiaram pela chácara.

— Olha. Isto aqui é como vês!... dizia o proprietário. — Boa sombra, caramanchões de maracujá, flores, sossego!... Bom lugar para estudo! E vai até o fundo. Vem ver!

Amâncio obedecia calado.

— Parece que se está na roça!... acrescentou o outro. — De manhã é um chilrear de passarinhos, que até aborrece! Quando aqui não houver fresco, não o encontrarás também em parte alguma! Cá está o terraço. — Sobe!

Subiram três degraus de pedra e cal.