extasiado, embevecido, como se fora arrebatado por entre nuvens de arminho.
No seu temperamento, excessivamente lascivo, gozava com sentir ligado ao corpo o corpo precioso de uma mulher de estimação; comprazia-lhe em beber-lhe o hálito acelerado pela dança, embebedava-se com respirar-lhes os perfumes agudos do cabelo e o infiltrante cheiro animal da carne.
Afinal, depois de uma valsa, estonteado e ofegante atirou-se ao canto do divã em que estava Hortênsia.
Confessava-se prostrado, a limpar o suor do pescoço e da fronte. Fora imensa a valsa e ele cansara três pares que se abateram inúteis, como as espadas de Ney na batalha de Waterloo.
— Apre! disse.
As senhoras olhavam-no já com respeito, acompanhavam-lhe os menores movimentos com enorme interesse.
— Muito bem! muito bem! cochichou-lhe a mulher de Campos. — Ignorava que o senhor fosse tão forte na valsa!
E começaram a conversar sobre o mal que se dançava ultimamente. Ela declarou que uma das coisas que mais apreciava, era a boa valsa. Isso desde criança; no colégio, às vezes, as meninas passavam a hora do recreio dançando umas com as outras.
— Ninguém o diria... considerou Amâncio, fazendo-se muito seu camarada. — A senhora hoje só tem querido dançar quadrilhas.
Ela respondeu com um risinho significativo.
— Quer uma valsa comigo?... perguntou o rapaz, em segredo, requebrando os olhos.
— Não posso! disse ela, quase com um suspiro. — Aceitaria de bom grado, mas não posso...