e um calor gostoso ia infirmando os sentidos e entontecendo a alma.

— Então?... pediu Amâncio, pondo muita doçura na voz — dance comigo, sim?... Faça-me a vontade. Eu sentiria nisso tanto gosto...

E todo ele suplicava aquele obséquio, com o empenho apaixonado de quem pede uma concessão de amor.

Ela dizia que não, meneando a cabeça; mas, um sorriso, que se lhe escapava dos lábios, dizia o contrário.

— Então!... sim?... sim?... um bocadinho só! insistia o estudante, a devorá-la com os olhos.

Estava ainda cansado; a voz não lhe vinha inteira, mas quebrada, como por um espasmo; os olhos dele arqueavam-se luxuriosamente; as pernas principiavam-lhe a tremer.

— O que lhe custa, à senhora, dançar um pouquinho comigo?...

E, vendo que ela não respondia, balbuciou em tom magoado, de criança ressentida:

— Bem, bem, não lhe peço mais nada, não a importunarei de hoje em diante. Desculpe!

Hortênsia voltou-se para ele, ia talvez desenganá-lo; mas a orquestra, que havia emudecido depois da quadrilha, deu sinal para a "valsa". Era o Danúbio, de Strauss.

O rapaz ergueu-se como um soldado que ouvisse tocar o rebate.

Ela não resistiu, levantou-se de um salto e entregou-lhe a cintura.

Dançaram. A princípio vagarosamente: depois, como a música se acelerasse, Amâncio arrebatou-a. Ela deixou-se levar, a cabeça descansada nos ombros dele, as mãos frias, a respiração doida.

A música redobrou de carreira.