na cama, resmungando, ele incontinente, calou a boca e prosseguiu em silêncio no seu trabalho.

— Ainda estás com isso?! perguntou ela, afinal, depois de uma pausa.

O marido respondeu afirmativamente.

— Pois, homem, vê se acabas com essa porcaria! Bem sabes que, enquanto houver luz no quarto, não posso pregar o olho!

E, fazendo ranger as tábuas da cama, virou-se de um lado para outro, acrescentando com a sua voz de homem:

— Deixa isso! Anda! E apaga o diabo dessa luz!

— Não, filha, respondeu o artista brandamente. — É preciso que este serviço fique pronto amanhã...

E depois de um muxoxo da mulher:

— Sabes o quanto precisamos deste dinheiro... A diretora do colégio ainda ontem protestou que despediria a pequena, se eu não lhe arranjasse alguma coisa por conta do que devemos; Joãozinho, coitado, há quase dois meses pediu-me que lhe levasse um sobretudo, porque lá no trapiche onde ele agora está trabalhando, faz pela manhã um frio de rachar; Mme. Brizard, você não ignora, tem-nos apoquentado e...

— É isto! interrompeu a mulher. — É sempre a mesma cantiga! — De tudo você se lembra, menos do que eu preciso!

— Ah! se me lembro, filha! mas é que nem sempre a gente pode fazer o que deseja... Descansa, porém, que as coisas hão de endireitar e tu possuirás de novo o teu piano de cauda! Tem um pouco de paciência...

— Já me tardava essa música! Já me tardava a "paciência"! A paciência inventou-se para consolar os tolos! Farte-se você com ela! De conselhos estou cheia, meu amigo! Quero obras e não palavras!