não me escreves mais amiúde e mais extensamente?" insistia a carta, "porque, meu querido filho, não me contas toda a tua vida; não me dizes como passas, e em que te ocupas? Desejo saber se Campos continua a ser teu amigo, se na casa dele continuas tratado como dantes. Quero que me relates tudo, tudo que te diga respeito, meu Amâncio. Se soubesses a falta que tu me fazes, os cuidados que me dá a tua ausência, com certeza serias melhor para tua mãe."
E, sempre a mesma, sempre extremosa, sempre com o filho na idéia, enviava-lhe conselhos, recomendava-lhe certas precauçõezinhas; as medidas que devia tomar contra tais e tais perigos; o modo pelo qual devia proceder em tais e tais situações.
Amâncio releu várias vezes o que lhe dizia Ângela e respirou largamente como quem sai de um quarto apertado para um grande ar livre. Mas se a carta materna o impressionou a outra surpreendeu porque de tão afável e condescendente não parecia derivar daquele terrível Vasconcelos que até em sonhos o aterrava e sim das mãos amigas de um velho camarada dos bons tempos da infância.
Estranhou-o logo, desde as primeiras palavras.
"Meu filho."
Até então, nunca recebera de seu pai esse carinhoso tratamento. Vasconcelos nem ao menos o tratara por tu; nunca lhe dera a beijar a mão ou a face, nunca lhe abrira, enfim, o coração, quando este se achava ainda brando e maleável, para depor aí as sementes de ternura, que desabrochariam mais tarde produzindo os bons sentimentos do homem.
Como exigir de Amâncio, que tivesse agora as virtudes que, em estação propícia, lhe não plantaram na alma? Como exigir-lhe dedicação, heroísmo, coragem,