— Ora para que havia de dar o velho!...
Não obstante, um vago sentimento, ao mesmo tempo amargo e agradável, apoderou-se dele. Desfrutava certo gosto em merecer aquela intimidade paterna; mas, por outro lado, doía-lhe a consciência por não ter sido melhor filho; como se o pobre rapaz de qualquer forma contribuíra para semelhante falta.
E, então, acudiu-lhe à memória uma circunstância de que jamais se havia lembrado — a despedida do pai. Vasconcelos estava bastante comovido nesse momento e abraçava-o chorando. Amâncio nunca lhe tinha visto o rosto com aquela simpática expressão de sofrimento; mas, bem pouco se impressionou na ocasião; os olhos conservaram-se-lhe enxutos e o coração quase alegre com a idéia da liberdade que ia principiar.
Só agora, depois da carta, depois que soube que era amado pelo velho, uma grande tristeza invadiu-o todo, e as lágrimas rebentaram-lhe com explosão.
Assim sucede sempre aos filhos educados à portuguesa, cujos pais como que sentem vexame de lhes patentear o seu amor.
Pobres pais! Quantas vezes não estarão morrendo por afagar o filho, e todavia, em vez de lhe darem um sorriso carinhoso, um beijo, uma palavra de doçura, fingem-se indiferentes e afastam-se para que o pequeno não lhes perceba a comoção.
Néscios! Julgam que com isso estabelecem uma corrente de respeito entre eles e os filhos; julgam que isso é indispensável para o bom êxito da educação; quando todas essa anomalia só pode servir para lhes roubar a confiança e a estima dos entes predestinados e dedicar-lhe todas as primícias de sua ternura.
Os pais dessa espécie levam a tal exagero a sua