convencional rispidez, que, se acham a graça em alguma coisa feita pelo filho, sufocam o riso, medrosos de que qualquer expansão acarrete uma quebra ao respeito filial.
Foi tudo isso, ao justo, que se deu com Vasconcelos a respeito de Amâncio. Amou-o, mas com disfarce; fingiu-se diretor inflexível, quando era simplesmente um pai como qualquer outro. Muita vez chorou de ternura, mas sempre às escondidas; muita vez sentiu o coração saltar para o filho, mas sempre se conteve, receoso de cair no ridículo.
E não se lembrava, o imprudente, de que o amor de pai é bem contrário ao amor de filho; não se lembrava de que aquele nasce e subsiste por si e que este precisa ser criado; que aquele é um princípio e que este é uma consequência; que um vem de dentro para fora e que o outro vem de fora para dentro. Não se lembrava, o infeliz, de que o primeiro existirá fatalmente por uma lei indefectível da natureza, ao passo que o segundo só aparecerá se lhe derem elementos de vida.
Foi desses elementos que Amâncio nunca dispôs para poder amar o pai.
O fato é que, depois da leitura da carta, o estudante sentiu, pela primeira vez, algum desejo de dar notícias suas a Vasconcelos; até aí só o fazia por honra da firma.
Campos, que lhe apareceu em seguida, veio transformar esse desejo em vontade, falando-lhe da correspondência extraordinária que, pelo mesmo paquete, recebera do Maranhão. O velho Vasconcelos também lhe havia escrito e, com tanto interesse lhe falara de Amâncio, tão inconsolável se mostrara e tão saudoso