— Que te amo...

— Não creio...

— Nesse caso, o cético não sou eu!

— Se me amasses, já mo terias provado...

— Provado?

— Está claro. Não acredito nesse amor cauteloso e metódico, que de tudo se arreceia, que se não quer expor, que tem calma para medir todas as conveniências, que teme os olhares, os ditos, as considerações de todo o mundo, que vem finalmente muito mais da cabeça que do coração!

— Não creditas, então, que eu te ame?...

— Não, decerto! Não te crimino por isso!... És ainda muito criança, para sentires o verdadeiro amor, a verdadeira paixão. Essa que não conhece obstáculos; que tudo pode e tudo vence; que é capaz de todos os sacrifícios, sejam do bem ou sejam do mal; essa que levanta os grandes crimes ou os grandes heroísmos! Amar, tu! E porventura saberás ao menos o que é o amor?! Algum dia experimente, por acaso, o ciúme, o desespero, a loucura, a que nos conduz o objeto amado! Não! Não queiras amesquinhar o único sentimento que até hoje se tem conservado puro! não queiras amesquinhar a coisa única respeitável que resta sobre a Terra! Para que possas falar a esse respeito, primeiro é necessário que ames! é preciso que dês alma, vida, futuro, esperanças, tudo, a uma mulher! é preciso primeiro que te esqueças de teus sonhos mais queridos, de tuas melhores aspirações, para só cuidares nela viveres dela e para ela! Então, sim! eu acreditaria em ti!

E Lúcia apoderou-se novamente das mãos de Amâncio, e as palavras borbulharam-lhe com mais febre: