uma das mãos nos olhos, tirou com a outra a conta do seio, e passou-lhe, sem dizer nada.

—"Quatrocentos e sessenta mil-réis", leu o moço para si. E fez um trejeito com os olhos.

Lúcia, ao lado, soluçava, sempre de rosto coberto.

Amâncio pensou um instante, e disse:

— Não te aflijas... Eu posso, se quiseres, arranjar o dinheiro para amanhã...

Ela, então, descobriu a cara e, sem uma palavra, abraçou-se ao rapaz e começou a chorar.

— E hoje, perguntou ele, quando Lúcia já se dispunha a sair — hoje mereço um beijo?...

Ela correu para Amâncio, sorrindo, e com os olhos fechados, estendeu-lhe os lábios.

O estudante, com as duas mãos abertas, segurou-lhe a nuca e principiou a sorver o "seu beijo", demoradamente, voluptuosamente, como se estivesse bebendo por um canjirão.

Lúcia, porém, ao perceber que a coisa se demorava muito, arrancou a cabeça das mãos do rapaz e fugiu.



Às nove horas da manhã subseqüente, voltava Sabino da casa de Campos com a resposta de uma carta em que o senhor-moço pedia o dinheiro necessário para satisfazer as dívidas de Lúcia.

João Coqueiro ficou assombrado quando recebeu a quantia; correu logo em busca da mulher.

— Sabes? disse, assim que a viu. — Pagaram!

— Hein?! fez Mme. Brizard, com espanto. — Pagaram?! Tudo?!...

— Integralmente! Cá está o cobre!

E, depois do silêncio da admiração:

— E que te parece, a ti, hein, Loló?!...