— Ora! que segredo pode ser esse, tão negro, tão repugnante, que não mo queiras dizer?... É preciso que eu mereça muito pouco da tua confiança!...

— Não, não é isso, mas é que me falta o ânimo para confessá-lo... Mudemos de conversa...

— Não queres dizer? Bem! Acabou-se!

— Oh! não me fales desse modo, meu querido!

— Então dize o que é.

— E prometes que não me acharás ridícula?... prometes que a revelação do que te vou dizer não me amesquinhará aos teus olhos?...

— Juro!

Lúcia tirou uma carta do seio e entregou-a ao estudante.

Logo que este principiou a leitura, ela cobriu o rosto com as mãos, como para esconder a vergonha.

Amâncio leu o seguinte em voz baixa:

"Sr.ª D. Lúcia Pereira. Há quatro dias que entreguei a seu marido uma segunda conta do mês passado e deste mês, e, visto que até agora não tenho recebido senão desculpas e promessas, tomo a liberdade de participar-lhes que, de hoje em diante, não posso continuar a lhes oferecer comida e que preciso urgentemente de cômodo ocupado pela senhora e seu marido. Espero, pois, que até amanhã esteja o quarto n.º 8 desembaraçado e a minha conta selada e assinada pelo Sr. Pereira; sem o que, pesa-me dizê-lo, não consinto que VV. SS. levem consigo a sua mulata, que é o único bem de que posso lançar mão para garantir a dívida."

Estava assinado por extenso o nome de João Coqueiro.

Amâncio dobrou a carta silenciosamente, ao passo que Lúcia continuava a esconder o rosto.

— Em quanto importa?... perguntou ele depois.

Ela conversando