— O que queres dizer com isso?

— Quero dizer que sei, tão bem como tu, que aqui nem todos são santos!...

— Não te percebo...

— E é melhor justamente que não percebas...

Mas, como o outro ainda se quisesse fazer de desentendido, ele declarou, frisando as palavras, que nem sempre ficava a dormir no quarto durante as noite e que então enxergava, às vezes, melhor do que mesmo de dia... E falou indiretamente nas entrevistas do médico do n.º 11 e no que sabia do próprio Coqueiro com referência à mucama.

— Olha! concluiu: — O que te posso afiançar é que a mulher de Pereira só vem aqui ao quarto depois que me acho doente, e, longe de ser com mau fim, coitada, é até com muita boa intenção! — Entra, cavaqueia um pouco, dá-me a tomar o remédio e assim como veio se vai embora, entendes tu?!

— Não há dúvida... gaguejou o hoteleiro, cuja fúria se esvaziara de repente às bicadas do outro, que nem um balãozinho de borracha. — Não há dúvida que tu és incapaz de cometer qualquer leviandade dentro de uma casa de família; mas, a questão são as aparências, são as más-línguas, são os outros hóspedes! Não os conheces, filho! Nenhum deles acreditará que Lúcia venha ao teu quarto só para te dar o remédio e meio dedo de palestra!... Sei perfeitamente que isso é exato, basta que o digas; eles, porém, não terão a mesma boa fé! muito mais sabendo, como sabem, de quanto é capaz aquela sujeita! Logo quem!...

— Oh! interjeicionou Amâncio. — Uma senhora casada!...

— Casada o quê!... Da missa não sabes nem a metade!

— Ela, então, não é casada com Pereira?...