rapaz turgia de saudade; longe de esquecê-la, cada vez a desejava com mais sofreguidão.

As trevas da ausência faziam-na destacar melhor e mais linda, como um fundo negro a uma estátua de mármore.

Sentiu sobressaltos deliciosos quando recebeu a primeira carta das mãos dela. Era extensa, cheia de imagens poéticas e figuras de grande alcance amoroso; terminava dizendo "que Amâncio, logo que pusesse os pés na rua, a fosse procurar". O endereço vinha à parte, num pedacinho de papel.

— E não poder ir quanto antes!... Que espiga! considerou ele, sinceramente penalizado.

E cresciam-lhe os enjôos.

Só Amélia, com os estiletes da sua perceptibilidade feminina, conseguiu penetrar no âmago daquelas tristezas, mas não se deu por achada e redobrou os desvelos e meiguices para com ele.

Amâncio, por mais de uma vez beijou-lhe as mãos suspirando que ela era o seu bom anjo, a sua consolação única no meio de "tantos dissabores"!

Assim se passaram quinze dias. O apaixonado já a tratava por tu, por você, raras vezes por senhora.

Era a piedosa Amelinha quem lhe arrumava o quarto, quem lhe cuidava da roupa, e já por fim, era até quem lhe levava o cafezinho pela manhã. Mas não entrava, apenas metia o braço pela abertura da porta que ficava sempre encostada, depunha cautelosamente a xícara sobre o soalho, e, se Amâncio ainda dormia, gritava-lhe no seu falsete aprazível:

— Preguiçoso, acorde! são horas!

Depois, apanhava novamente as saias e descia a escada, ligeira e sem rumor.

Outras vezes, ao anoitecer, subia para lhe pedir um