livro emprestado, para saber se ele queria o chá no quarto ou se preferia descer à sala de jantar. Sempre havia um pretexto para lá ir e, depois de lá estar, sempre arranjava um motivo de demora. Entretinha-se a ver o que se achava sobre a mesa; examinando tudo; lia a lombada dos livros, e brincava com um esqueleto que jazia pendurado a um canto do quarto.

Amâncio, de uma feita, não pôde deixar de rir, quando a encontrou muito espantada a examinar as gravuras de um tratado fisiológico de Vernier.

Estava, porém, mais e mais convencido de que toda aquela familiaridade e toda aquela confiança da rapariga procediam do modo e das maneiras respeitosas e fraternais com que ele, até ali, a tratara. E então, fazia por domar os seus impulsos luxuriosos, receoso de cair-lhe em desagrado.

Verdade é que, em grande parte, contribuía para esse estranho heroísmo de garanhão, não só a moléstia, como a ilimitada confiança que, muito propositadamente depositavam nele Coqueiro e a mulher.

Se Amélia e Lúcia trocassem os papéis, isto é, se aquela se negasse e esta se oferecesse, é de supor que Amâncio desdenhasse a última e ambicionasse a primeira.

Mas o Sr. João Coqueiro, apesar de tão fino, não calculou que, em naturezas viciadas como a de Amâncio, o mais forte estímulo para o amor é a proibição.

Embalde deixavam o rapaz horas e horas no salão, às voltas com a menina; embalde Mme. Brizard lhe dava a perceber o quanto era ele amado pela cunhada; embalde lhe chamava "coração de gelo"; embalde lhe preparava todos os laços. — Nada produzia o efeito desejado; Amâncio tornava-se cada vez mais respeitoso e mais frio em presença de Amélia.