— Vamos! Desperta por uma vez e dá-lhe o remédio! Ele parece que tem sede!

O tísico, ao ouvir a voz de Amâncio, principiou a agitar os braços, como se o chamasse, grugulejando sons roucos e ininteligíveis.

O estudante não quis atender, mas o doente insistia com tamanho desespero, que ele, afinal, vencendo a repugnância, se aproximou, a conchear a mão contra a língua trêmula da vela.

Apesar de seus fracos estudos de medicina, fazia-lhe mal aos nervos aquela figura descarnada, que se exinania na impudência aterradora da morte; fazia-lhe mal aqueles membros despojados em vida, aquele esqueleto animado, que, na sua distanásia, parecia convidá-lo para um passeio ao cemitério.

E o tísico rouquejava sempre, agitando os braços.

O moleque, ao lado, derramava-lhe colheradas de remédio na boca; mas o líquido voltava em fios pelo canto dos lábios do moribundo e escorria-lhe ao comprido do pescoço e pela aridez escalavrada do peito.

Amâncio tomou-lhe um dos pulsos. O contato pegajoso e úmido fez-lhe retirar-lhe logo a mão com um arrepio.

— Qual, nhô, ele está assim a um ror de dias! Leva nisto e não decide!...

— Não! Creio que agora está morrendo...

E olhou para o doente.

Este espichou a cabeça e respondeu que não, com um movimento demorado.

— Ele ouviu?... perguntou Amâncio, impressionado com a intervenção inesperada do moribundo.