A caveira tornou a agitar-se nos travesseiros para dizer que sim.

— Olha!... fez o estudante arregalando os olhos. E aproximou-se da porta, recomendando ao Sabino que se não descuidasse da pobre criatura; que se não pusesse a dormir como ainda há pouco!

O tísico, que havia serenado alguma coisa com a presença do rapaz, principiou de novo a espolinhar-se, rilhando os dentes e agitando os braços e as pernas.

Amâncio, porém, não atendeu desta vez e saiu. O tísico rosnou com mais ânsia, procurando lançar-se fora do leito, numa aflição crescente.

— Fica quieto! gritou Sabino, obrigando-o a deitar-se.



Logo que o estudante se afastou com a vela, o quarto recaiu na sua dúbia claridade modorrenta. Os ventos frios da madrugada continuavam a soprar. O moleque foi até a janela, olhou a rua em silêncio, acendeu um cigarro e, quando viu que o seu homem parecia serenado, tratou de reassumir o sono.

O senhor é que não podia sossegar, com a idéia naquele pobre rapaz, que ali morria aos poucos, sem família, nem carinhos de espécie alguma; sem ter ao menos quem o tratasse, nem dispor de um amigo que se compadecesse dele.

— Infeliz criatura! pensava. — Além do mais, longe da Pátria, longe de tudo que lhe podia ser caro!

E, sacudido de estranhas condolências, imaginava o pobre desterrado saindo de sua aldeia em Portugal, atravessando os mares, atirado no convés de um navio, afinal no Brasil, neste país-sonho, a trabalhar dia a dia durante uma mocidade, e economizar, e sofrer privações;