penetrarem-no até a medula. O professor, transformado em juiz e ostentando as feições do falecido Vasconcelos, inquiria-o com asperezas de senhor; mas as suas perguntas, em vez de concernirem às matérias do ato, só se referiam à Amélia.

— Por que matou você a pobre menina?! bramia o pai cravando-lhe olhares de fogo: — Responda, seu canalha! responda! Ah! Pensa que ainda não sei de que você, para melhor a seduzir, lhe havia prometido casamento e jurado olhar sempre por ela, seu cachorro?!

Coqueiro, lá do canto, sacudia a cabeça afirmativamente e enviava a Amâncio caretas de vingança. Ao lado deste, o cadáver de Amélia fazia-se todo vermelho com o sangue que lhe golpejava de um dos seus seios rasgados de alto a baixo.

O réu queria responder, justificar-se, expor a verdade; eram, porém, baldados os seus esforços: não conseguia articular uma palavra; gelatinava-se-lhe a voz na garganta, empacando-lhe a fala.

— Bem! gritou o velho Vasconcelos à meia dúzia de soldados que escoltavam Amâncio. — Conduzam esse miserável ao cepo e cortem-lhe a cabeça!

O estudante atirou-se de joelhos, com as mãos postas, chorando, suplicando que o não o matassem. Mas os soldados apoderaram-se dele com violência e ataram-lhe os braços. o Juiz, Coqueiro, Simões, Paiva, sumiram de repente, soltando gargalhadas. Amâncio foi conduzido por um corredor muito escuro e apertado; os soldados, quando o viam vacilar, batiam-lhe no ombro com a coronha das espingardas. Chegou a um pátio lajeado e úmido, onde milhares de homens armados formavam alas; no centro, sobre um toro de madeira conspurcada de sangue, reluzia um machado à sua espera; e,