de joelhos, abraçado a um crucifixo, um padre velho, de longos cabelos brancos, engrolava latim.
Fizeram silêncio.
No meio das respirações abafadas, só se ouviam os passos trôpegos e o aflitivo resfolegar do condenado que, à ponta da baioneta, subia os degraus do cadafalso.
Veio o carrasco, despiu-lhe a camisa, tosou-lhe os cabelos, e empunhou o ferro.
Amâncio não se resolvia a entregar o pescoço, mas o velho Vasconcelos, que surgira por detrás dele, atirou-lhe um murro à nuca e fê-lo cair de bruços contra o cepo.
Então, para lhe abafar os gemidos, romperam todos os soldados num rufo estridente de tambores.
Amâncio sentiu o aço frio entrar-lhe na carne de toutiço, espipar o sangue, e o corpo, de um salto, arrojar-se às lajes.
Havia saltado, com efeito, mas da cama. E o despertador, que ficara de véspera com toda a corda para as seis da manhã, continuava o rufo penetrante dos tambores.
O estudante abriu os olhos e passou em sobressalto a mão pela testa; os dedos voltaram ensopados de suor.
Com a perceptibilidade das coisas foi aos poucos saindo daquele estado de excitação, mas voltando lentamente à taciturna agonia da véspera.
Vestiu-se quase sem consciência do que fazia: esqueceu-se até de escovar os dentes, porque, mal voltou a si, correu aos livros, sem aliás, conseguir firmar a atenção sobre coisa alguma.
E Amâncio tremia todo só com a idéia de sua inabilidade. À medida que as horas se esgotavam e o momento fatal se lhe antepunha, um langor covarde e mulheril