e do desejo, luziam suplicantes, como os olhos de um cão que tem fome.

— Pois bem, murmurou ela, meio compadecida. — Vá lá por esta vez! Está perdoado, mais fique prevenido de que, se repetir a graça, não respondo pelas consequências.

Amâncio ia fazer novos protestos, quando sentiu que alguém se aproximava; ergueram-se ambos, instintivamente, e, fugindo ao rumor, seguiram de braço dado para a sala.

Tocava-se uma valsa. Ele, sem consultar Hortênsia, enlaçou-lhe a cintura, e puseram-se os dois a rodar, a rodar, tão certos e tão leves, que prendiam a atenção de quantos lá se achavam. E Coqueiro, encostado à ombreira de uma porta, acompanhava-os com um sorriso de felicidade, no qual havia alguma coisa de orgulho de pai que se revê num filho prodigioso.

Mas o querido estudante, para o fim da festa, já não parecia o mesmo: as bebidas e o cansaço davam-lhe um ar grosseiro e desalinhado; já se lhe não via o colarinho, nem os punhos; a roupa empastava-lhe com o suor e a cabeleira desguedelhava-se sobre a testa. E vinham-lhe então pilhérias de mau gosto; tratava Amelinha quase licenciosamente e regamboleava as pernas e os braços no meio da quadrilha, como se estivesse num baile público. Já não dava excelência a ninguém e queria, por força, que Simões e Paiva, depois da festa, o acompanhassem a um passeio ao alto da Tijuca.

— Que diabo! rosnava ele, cuspilhando para os lados. — Ou bem que a gente se mete na pândega ou bem que não se mete!

Só se retiraram ao despontar da aurora. César, que adormecera desde as onze horas da noite, ficou para passar