ninguém pra diante", e aconselhava-o a que se não descuidasse de outras que lhe podiam ainda vir a servir; pregava-lhe sermões a respeito de economias. "O mundo estava cheio de espertos: ele que desconfiasse de todos; cada um só procurava chamar a brasa para a sua sardinha!" Queria estar a par de como iam os negócios do amante na província. "Se o dinheiro ficara em boas mãos; se não havia risco de uma quebra ou de alguma ladroeira." E muito egoísta, muito mulher, muito agarrada ao que lhe pertencia, desde Amâncio até ao pó de suas gavetas, fazia justamente como fazem os sócios comerciais que, parecendo tratar dos interesses abstratos de uma firma, estão mais é tratando dos próprios interesses.

Outras vezes boquejavam sobre os conhecidos, sobre as pessoas de amizade. Uma noite em que, durante o serão da varanda, se conversou muito a respeito de Hortênsia, Amélia, já no quarto, em fralda, com um joelho dobrado em cima da cama, enquanto tirava grampos da cabeça e os arremessava para o velador, disse, como se continuasse um pensamento:

— Ela, no fim de contas, não passa de uma mulher como as outras!... Loló e Janjão, é que, quando gostam de uma pessoa tiram tudo dos outros para enfeitá-la!

— Quem? D. Maria Hortênsia? perguntou Amâncio, procurando num livro o lugar em que na véspera deixara a leitura. E, depois de um movimento afirmativo da rapariga:

— Não, Coqueiro tem razão — a mulher de Campos é uma excelente senhora. Muito honesta!

— Ora! É uma mulher como as outras!... sustentou Amélia, galgando a cama por cima do amante, para se aninhar do lado da parede.

— Como as outras, como? Em que sentido?