em passar-lhe a carta de alforria por seiscentos mil-réis, que ela ajuntara durante quinze anos. Mas a preta não abandonou a casa de seus brancos e continuou a servir, como dantes; menos, está claro, no que dizia respeito aos castigos, porque a desgraçada, além de forra, ia já caindo na idade.

Amâncio dera-lhe bastante que fazer. Fora um menino levado da breca; só não chorava enquanto dormia e quando se punha a espernear, não havia meio de contê-lo.

Era muito feio em pequeno. Um nariz disforme, uma boca sem lábios e dois rasgões no lugar dos olhos. Não tinha um fio de cabelo e estava sempre a fazer caretas.

A princípio — muito achacado de feridas, coitadinho! Os pés frios, o ventre duro constantemente.

Levou muito para andar e custou-lhe a balbuciar as primeiras palavras. Ângela adorava-o com entusiasmo do primeiro parto; por duas vezes supôs vê-lo morto e deu promessas aos santos da sua devoção.

Conseguiram fazê-lo viver, mas sempre fraquinho, anêmico, muito propenso aos ingurgitamentos escrofulosos.

Quando acabou as primeiras letras, não era, entretanto, dos rapazes mais débeis da aula do Pires. Para isso contribuíram em grande parte uns passeios que costumava dar, pelas férias, à fazenda de sua avó materna, em São Bento.

Esses passeios representavam para Amâncio a melhor época do ano. A avó, uma velha quase analfabeta, supersticiosa e devota, permitia-lhe todas as vontades e babava-se de amores por ele. O rapaz escondia-lhe o cachimbo, pisava-lhe os canteiros da horta, divertia-se em quebrar a pedradas as lamparinas dos santos suspensas na capela, e, às vezes, quando não estava de boa