Coqueiro, desde a prevenção que lhe fez a irmã, não se descuidou mais um instante de vigiar a sua presa: seguiu-lhe os passos, farejando, até o momento em que Amâncio tomou bilhete de passagem para o norte.

Então, correu à casa do Dr. Teles de Moura.

O Teles era um advogado velho, muito respeitado no foro; não pelo caráter, que o não mostrava nunca, nem pela sua ciência, que não a tinha; nem tampouco pelo seus cabelos brancos, que a estes nem ele próprio respeitava, invertendo-lhe a cor; mas sim pela sua proverbial sagacidade, pelas suas manhas de chicanista, pela sua terrível figura de raposa velha, pelos seus olhinhos irrequietos e matreiros, pelo seu nariz a bico de pássaro e pela sua boca sem lábios, donde a palavra saía seca e penetrante como uma bala.

O passado de Teles era toda uma legenda de vitórias judiciais; atribuíam-lhe anedotas mais antigas do que ele; muito processo se anulou naquelas unhas aduncas de tamanduá; muito criminoso escapou às penas da lei por entre as malhas da sua astúcia; muito inocente foi parar à cadeia ensarilhado nas pontas de seus sofismas.

Para ele não havia causas más; em suas mãos qualquer processo se enformava ao capricho dos dedos como uma bola de miolo de pão.

E o irmão de Amélia sabia de tudo isso perfeitamente quando lhe foi bater à porta.

Seriam então nove horas da manhã; a raposa almoçava.

Coqueiro esperou um instante e, só terminado o barulho dos pratos, animou-se a tocar a campainha.

Apareceu um moleque, tomou o recado no corredor e pouco depois trouxe a resposta. "O amo estava muito