O acidente de Amâncio causou enorme impressão nos seus conhecidos. Campos, ao receber a notícia, ficou fulminado e atirou-se no mesmo instante para a casa de correção, sem mais se lembrar de que nesse dia estava cheio de serviço até os olhos.

Seu primeiro ímpeto foi de repreender severamente o culpado, verberar-lhe com energia a "ação indigna" que acabava de praticar; mas pouco depois, veio-lhe uma grande comiseração. "Porque, enfim, coitado, o pobre moço ainda era muito criança... naturalmente fraco... e daí... Quem sabia lá o que teriam feito para o precipitar naquele crime?..."

Sem saber por que, afigurava-se-lhe que o papel de vítima cabia mais a Amâncio do que a Coqueiro. Este surgia-lhe agora à imaginação, como que um Satanás de mágica que deixou de fugir de repente, pelo alçapão do teatro, com a sua túnica de bom velho peregrino. Seria até capaz de jurar que, a despeito do disfarce, já de muito lhe havia bispado a saliência dos cornos diabólicos por debaixo do religioso capuz. E pequeninos fatos, que até aí jaziam dispersos e abandonados no seu espírito, vinham, acordado de repente, justificar semelhante transformação.