encaroçava-se-lhe por dentro, numa grande aflição.
— Agora, como se apresentar nas aulas?!... Com que cara suportar o riso sarcástico dos colegas?!... Como resistir à curiosidade brutal do público que o esperava impaciente por cuspir-lhe no rosto?!... Como passar debaixo daquelas mesmas janelas que despejaram flores sobre a cabeça de Amâncio?!... — Amâncio! o homem que dormiu meio ano com sua irmã!...
E maquinalmente foi à secretária e tirou o velho revólver que fora do pai.
Que estranhas recordações à vista daquela arma! daquela arma que na sua infância o fizera chorar tantas e tantas vezes!... Belos tempos que não voltam!...
E contemplava distraído os bonitos do revólver — os arabescos de prata e madrepérola com o brasão do velho Lourenço Coqueiro em ouro.
Rica peça! Artística, bem trabalhada; não se lhe enxergava sinal de ferrugem, nem desarranjo nas molas. — Também, que havia nisso para admirar se o dono tinha por ela uma espécie de fetichismo e andava sempre a bruni-la e a azeitá-la? Era o único objeto que lhe falava ainda das extintas grandezas do pai: Quantas vezes não ouvira ele cavaquear o pobre velho sobre as alegorias daquele rico brasão!... E quantas vezes, a tremer de medo, não o vira descarregar aquela mesma arma contra uma laranja que um escravo segurava com a mão erguida!
— Ah! bem que se recordava de tudo isso!... Parecia-lhe ouvir ainda gritar o pai, quando lhe metia à força o revólver entre os dedos. "Não! Isso agora hás de ter paciência! tu, ao menos, ficarás sabendo dar um tiro!
E, todavia, não fiquei sabendo... balbuciou o filho de Lourenço, a experimentar nos lábios o contato frio do cano