— É que o sucede a quem mora perto de um João Coqueiro! bradou um da turma.

— Quem mora junto ao chiqueiro sente o fedor da lama! gritou um segundo.

— Queixe-se à Câmara Municipal! acudiu outro.

E formidável matação foi de encontro à vidraça iluminada do chalé de Amélia.

Um dos vizinhos apitou e outro despediu um jarro de água sobre os desordeiros.

Ouviu-se logo o estardalhaço impetuoso dos gritos, das descomposturas e do crepitar dos vidros que se partiam sob um chuveiro de pedras.

— Morra o infame! bramia a malta, já de carreira para o Largo do Machado. — Morra o cáften!



João Coqueiro presenciara tudo aquilo, grudado a um canto da janela, mordendo os nós da mão, os olhos injetados, o sangue a saltar-lhe nas veias.

— Oh! Era demais, pensava ele desesperado. — Era demais tanta injúria! — Se Amâncio estivesse ali, naquela ocasião, por Deus, que o estrangulava!

Abriu a janela. O dia repontava já, mas enevoado e triste. Não havia azul; céu e horizontes de neblinas, formavam uma só pasta cor de pérola, onde vultos cinzentos se esfumavam.

O homem da venda abria também as suas portas. Coqueiro cumprimentou-o, ele respondeu com um risinho insolente, acompanhado de pigarro.

Uma caleça rodejava lentamente ao largo da rua, o cocheiro vergado sobre as rédeas, o seu casquete sumido na gola do capotão. Coqueiro fez-lhe sinal que esperasse,