Esse homem, que alguns tomavam por um médico, outros por qualquer autoridade policial; outros por um jornalista, outros por um dos professores da faculdade onde estudava o defunto, não era senão Lambertosa, o ilustre gentleman da casa de pensão da Mme. Brizard.

E, sempre distinto, sempre viajado, pronto sempre a explicar as coisas cientificamente, agitava a bengala afagando a barriga bem abotoada, e de pernas abertas, pescoço duro, ia estadeando a sua "grande intimidade" com o célebre morto; citando fatos, contando magníficas anedotas que se deram entre os dois.

— Ah! Era um moço de invejável talento! — Boa memória, compreensão fácil e gosto cultivado. Para a retórica ainda não vi outro... Não, minto! — em Londres, em Londres, confesso que encontrei um outro nessas condições!...

E punha-se a falar de Londres, e passava depois à França, à Itália, à Europa inteira, e chegaria até aos pólos, se alguém quisesse acompanhá-lo na viagem.

Muitos outros dos antigos inquilinos de Mme. Brizard também apareceram no necrotério. Lá esteve a pálida Lúcia, cheia de melancolia, a fitar o cadáver, em silêncio, com os seus belos olhos alterados pelo abuso das lunetas. Agora morava ela com o seu Pereira em Niterói, numa casa de pensão de um italiano, educador de cães e macacos. Era a terceira que percorria depois da Rua do Resende.

Lá esteve, de passagem, o Fontes, com as suas amostras de renda debaixo do braço; lá esteve o triste Paula Mendes, para fazer a vontade da mulher, que exigira ver a "vítima daquele grande cão"!; lá esteve o Dr. Tavares que parecia tomar cada vez mais interesse no "escandaloso assassinato". E, quem diria? até lá esteve o esquisitão do Campelo