que muito dificilmente se abalava com as questões alheias.

Por toda a cidade só se pensava no "crime do Hotel Paris"; os jornais saíam carregados de notícias e artigos sobre ele, esgotavam-se as edições da defesa e da acusação de Amâncio; vendia-se na rua o retrato deste em todas as posições, feitios e tamanhos; moribundo, em vida, na escola, no passeio. E tudo ia direto para os álbuns, para as paredes e para as coleções de raridades.

Hortênsia, quando lhe constou o terrível desfecho daquele episódio que, na sua fantasia romântica, tomava as proporções de um poema, caiu sem sentidos e ficou prostrada na cama por uma febre violenta. Durante esse tempo, o marido procurava na prisão o assassino para lhe oferecer os seus serviços e pôr à disposição dele o dinheiro de que precisasse. "Coqueiro podia ficar tranqüilo — nada havia de faltar à família, nem a pensão de Nini."

E foi em pessoa dar as providências para o enterro do outro.

O funeral atingiu dimensões gigantescas: parecia que se tratava da morte de um grande benemérito da pátria.

Por influência do advogado de Amâncio, que era político e bem relacionado, compareceram muitos figurões e até alguns homens do poder. Houve senadores, ministros em vigor, titulares de vários matizes, altos funcionários públicos, artistas de nome, doutores de toda a espécie, clubes de todas as ordens, ordens de todas as devoções, jornalistas, negociantes, empresários, capitalistas e estudantes; estudantes que era uma coisa por demais.