Antes mesmo da partida de Amâncio, muito sofrera a mísera com a idéia daquela separação. Pensava nisso a todo instante, sem se poder capacitar de que ele devia ir, atirado a bordo de um vapor, tão sozinho, tão em risco de perigos. "Oh! era muito duro! Era muito duro!..." Mas Vasconcelos opunha-lhe argumentos terríveis: — O rapaz precisava fazer carreira, ter uma posição! Não seria agarrado às saias da mãe que iria pra diante! Há muito mais tempo devia ter seguido — o filho de fulano fora aos quinze anos; o de beltrano voltara com vinte e três, e Amâncio já tinha vinte. Ia tarde! Ângela que se deixasse de pieguices. Justamente por estimá-lo é que devia ser a primeira a querer que ele fosse, que se instruísse, que se fizesse homem! além disso o rapaz poderia visitá-la pelas férias, nem sempre, mas de dois em dois anos.

Ângela parecia resignar-se com as palavras de Vasconcelos; fazia-se forte: jurava que "não era egoísta", que "não seria capaz de cortar a carreira de seu filho"; mal porém, o marido lhe dava as costas, voltava-lhe a fraqueza; vinham-lhe as lágrimas, tornavam as agonias. Por vezes, no meio do jantar, enquanto os outros riam e conversavam, ela, que até aí estivera a pensar, abria numa explosão de soluços e retirava-se para o quarto, aflita, envergonhada de não poder dominar aquele desespero. Outras vezes acordava por alta noite, a gritar, a debater-se, a reclamar o filho, a disputá-lo contra os fantasmas do pesadelo.

No dia da viagem não se pôde levantar da cama, tinha febre, vertigens; a cabeça andava-lhe à roda. E não queria mais ninguém perto de si, além do filho, só ele! "Não a privassem de Amâncio ao menos naquele dia!" E tomava-o nos braços, procurava agasalhá-lo ao colo, com fazia dantes, quando ele era pequenino. Afagava-