Por isto estimou deveras ter de seguir para o Rio de Janeiro. A Corte era "um Paris", diziam na província, e ele, por conseguinte, havia de lá encontrar boas aventuras, cenas imprevistas, impressões novas e amores, — oh! amores principalmente!

E, com efeito, desde que pôs o pé a bordo, principiou a gozar a impressão de novidade, produzida no seu espírito pela viagem.

A circunstância de achar-se em um paquete sozinho, ouvindo o ronrom monótono da máquina e sentindo, como nos romances, as vozes misteriosas dos elementos sussurrarem à volta de seus ouvidos — encantava-o. Prestava muita atenção ao mais pequeninos episódios de bordo: olhava interessado para a grossa figura dos marinheiros que baldeavam pela manhã o tombadilho, a dançar com a vassoura aos pés; estudava o tipo dos outros passageiros, procurando descobrir em cada qual um personagem de seus livros favoritos; ao abrir e fechar das portas do camarotes, espiava sempre, e às vezes lobrigava de relance, ao fundo no beliche, uma figura pálida, ofegante, toda descomposta na imprudência do enjôo.

Ele é que nunca enjoava. À noite ia fumar para a tolda, estendido sobre um banco, as pernas cruzadas, os olhos perdidos pelo oceano.

Vinham-lhe então as nostalgias da província: o coração dilatava-se por um sentimento morno de saudade. Via defronte de si o vulto carinhoso de sua mãe, a chorar, com o rosto escondido no lenço, o corpo sacudido pelos soluços.

Quanto não custou à pobre mulher separar-se ao filho?... Que violência não foi preciso para lho arrancarem dos braços! foi como se pela segunda vez lho tirassem a ferro das entranhas.