A italianinha agarrou-se ao dinheiro e olho surpresa para o calouro. Depois beijou-lhe novamente as mãos e fugiu, atirando-lhe beijos.

— Coitada! repetiu ele.

— Ainda estás muito peludo! resmungou o Paiva. Olha que isto por cá não é o Maranhão!...

E pôs-se logo a falar nas especulações do Rio de Janeiro. Contou fatos horrorosos de cinismo e gatunagem. "Amâncio que se acautelasse: no caminho em que ia, haviam de arrancar-lhe até os olhos. — Ali, a ciência de cada um consistia em fazer com que o dinheiro passasse das algibeiras dos outros para as próprias algibeiras." Estava indignado! "Não podia, a sangue frio, ver assim se atirar à rua — dois mil-réis! Ah! se o outro soubesse quanto o dinheiro custava a ganhar, não teria as mãos tão rotas!"

E mostrava-se extremamente empenhado nos interesses do colega: dava-lhe conselhos; havia de abrir-lhe os olhos, indicar-lhe o verdadeiro caminho a seguir. "Não! Que ele não era desses, que só querem desfrutar!... Quando simpatizava com um rapaz, sabia ser amigo! Amâncio o veria no futuro!..."

— Olha! segredou-lhe, passando-lhe um braço nas costas. — Hás de encontrar por aí muito artista! Acautela-te, filho! acautela-te, que os cabras sabem levar água ao seu moinho! Digo-te isto, porque te estimo, porque sou teu amigo, percebes?

Amâncio percebia e jurava muito grato àquela dedicação. Tiveram, porém, de interromper o diálogo: dois outros estudantes acabavam de parar defronte deles.

Eram amigos do Paiva. Houve logo novas exclamações e cumprimentos rasgados.

— Meus senhores, exclamou aquele, apresentando Amâncio.