voltou-se de súbito para Amâncio e perguntou-lhe decisivamente.

— Tu queres almoçar bem?!

E feriu a última palavra.

— É! respondeu o outro.

— Pois então vamos ao Hotel dos Príncipes!

E seguiram pela Rua Sete de Setembro até o Rocio.

Ao penetrarem no largo, uma menina italiana, de alguns dez anos de idade, toda vestida de luto, morena, e ar suplicantemente risonho e cheio de miséria, abraçou-se às pernas de Amâncio, pedindo-lhe dinheiro — para levar à mãe que estava em casa morrendo de fome.

— Sai gritou-lhe o Paiva, procurando arredá-la.

Mas a pequena ajoelhou-se, sem largar as pernas do calouro, de cujas mãos já se tinha apoderado e cobria de beijos.

— Então, papai! papaizinho bonito! uma esmolinha sim?... dizia ela, voltando para o moço seus belos olhos de criança, e rindo com uns dentes muito brancos que se lhe destacavam vivamente da cor morena do rosto.

— Coitadinha! lamentou Amâncio, fazendo-lhe uma festa no queixo e procurando dinheiro na algibeira das calças.

Puxou um maço grosso de cédulas.

— Não seja tolo! gritou-lhe o companheiro. — Isto é especulação de algum vadio! Vestem por aí essas bichinhas de luto e mandam-nas perseguir a humanidade! É uma esperteza, não seja tolo!

A pequena lançou ao Paiva um gesto de raiva e sorriu para Amâncio, suplicando.

— Em todo o caso faz dó, coitada! murmurou este dando-lhe uma cédula de dois mil-réis.