no gênero pretensioso dos hotéis, o ar parisiense dos criados, vestidos de preto e avental branco; a cor estridente do gabinete; o perfume das flores que guarneciam jarras de proporções luxuosas; o alvoroço palavroso e alegre dos que faziam a sobremesa; o crepitar do riso das mulheres, cujos penteadores branquejavam sobre o escuro dos tapetes; a reverberação dos cristais; a expectativa de um bom almoço, que seria devorado com apetite, e finalmente a circunstância de que Amâncio, havia muito não gozava uma pândega; tudo isso lhe refrescava o humor e o fazia feliz naquele momento.
— Garçom! gritou o Paiva, entrando no gabinete com um ar sem-cerimônia. La carte!
O criado disparou.
— Tu falas francês?... inquiriu Amâncio, já com admiração na voz.
— Ora respondeu Paiva, levantando os ombros. Aqui na Corte será difícil encontrar alguém que não fale francês!...
— Pois eu ainda não sei... disse aquele tristemente.
— Questão de prática! observou o outro.
Coqueiro, que acabava nesse momento de entrar no gabinete, conversando com Simões, propôs que se despissem os paletós.
Principiaram a comer.
O Paiva encarregara-se do menu. Estava radiante; parecia empenhado na direção do almoço, como se tratasse de um trabalho difícil e glorioso. Escolhia pratos esquisitos e determinava os vinhos que os deviam acompanhar.
— Este Paiva é terrível para um menu! observou Simões em ar de troça.
— Não! disse aquele. — Não admito que ninguém dirija um almoço melhor do que eu!