— Sim, considerou Coqueiro — mas vais ver por que preço sai tudo isso!...

— Não faz mal!... apressou-se Amâncio a declarar. — Sinto-me tão bem entre os senhores... há tanto tempo não tinha um momento livre, que...

— Bem, de acordo, respondeu Coqueiro, mas é preciso deixar esse tratamento de "senhor". Entre rapazes não deve haver cerimônias, mal-entendidos; somos colegas, temos de ser amigos, por conseguinte tratemo-nos desde já por "tu". Não és da mesma opinião, ó Paiva?

— In totum! respondeu este, abraçando Amâncio pela cintura. — Nós cá somos camaradas velhos! Vem de longe!

E parecia querer provar que os seus direitos sobre o comprovinciano eram muito mais legítimos que os dos outros dois; que Amâncio lhe pertencia quase exclusivamente, como um tesouro, como uma fortuna que se traz do berço. E para deixar isso bem patente, fazia-se muito íntimo com ele: batia-lhe nas pernas; evocava recordações; lembrava-lhes as correrias da província:

— Ah! nós éramos muito camaradas! Lembras-te, Amâncio, daquele passeio que fizemos ao Portinho?...

— Em que Malheiros tomou uma bebedeira de charuto? Perguntou o interrogado a rir. — Naquele dia do barulho no Liceu; quando o Chico moleque foi expulso!...

— É verdade! que fim levou esse rapaz! quis saber Paiva — Era um bom tipo. Inteligente!

— Morreu, coitado! de bexigas. Ultimamente estava no comércio.

E aquele pequeno, o...

— Qual?

— Aquele bonito, de cabelos grandes... ora, como se chamava ele?... o...