afogueavam-se as faces ao reflexo vermelho das paredes do gabinete. Simões discutia com Paiva a incompetência dos professores da Politécnica.

— Uma súcia! uma cambada! sintetizava ele. — Se fosse preciso despedir dali os que não prestam, não ficaria nenhum!

O outro protestava, gritando e batendo punhadas sobre a mesa. Havia já dois copos quebrados.

O criado trouxera a sobremesa — uma salada russa.

Paiva pediu gelados e quis que lhe dessem uma omelete ao rum. "Não podia passar sem isso no almoço!"

Suavam.

Amâncio tornava-se expansivo: falou de seus amores na província; contou as suas intenções a respeito da mulher do Campos.

— Ela parece que tem medo, dizia. — Mas eu sou perseverante! Espero!

— Menino, segredou-lhe Paiva. — Vai aproveitando, vai aproveitando, porque é isso o que se leva deste mundo!

— E o mais são histórias... concluiu o filho de Vasconcelos.

E fazia-se muito fino, perigoso, e continuava a parolar com embófia, loquaz, um pouco sacudido pelo almoço.

Coqueiro estudava-o de socapa, a seguir-lhe os gestos, a fariscar-lhe as intenções. Dos quatro era o único que não estava tonto: seus olhos, pequenos e de cor duvidosa, conservavam a mesma penetração e a mesma fixidez incisiva de ave de rapina; sua boca, estreita, bem guarnecida e quase sem lábios, tinha o mesmo riso arqueado, mal seguro e frio, de quem escuta e observa.

Era de altura regular, compleição ética, rosto comprido, de um moreno embaciado, pouca barba, pescoço magro, nariz agudo, mãos pálidas e secas, voz doce