— Ai! ai! gemia oprimido.

— Ora que tipo! disse Paiva, atirando-o sobre os travesseiros. — Vê se consegues dormir! Isto não é nada!

E narrou um caso idêntico que experimentara.

Amâncio sentia-se um pouco mais aliviado, continuava, porém, a suar frio; tinha a cabeça completamente ensopada e não dispunha de forças para coisa alguma. Os olhos fechavam-se-lhe com um entorpecimento pesado de sono. Pediu mais água. E, depois de a tomar, deu a entender que era preciso que o despissem e descalçassem.

Paiva entrou a tirar-lhe a roupa, safou-lhe com dificuldade as botinas, porque as meias estavam suadas.

Amâncio, muito prostrado, mole, a virar-se de uma para outra banda, aiava sempre. Afinal sossegou, parecia adormecido; mas, ergueu-se logo, com ímpeto, e começou a vomitar de novo, sem dizer palavra.

— Que pifão! reconsiderava o colega, encarando-o com as mãos cruzadas atrás.

— Homem! Vê se lhe dás um pouco de amônia! lembrou do fundo do quarto uma voz arrastada e um pouco fanhosa.

Só então Amâncio percebeu que ali, a seis ou sete passos distante dele, estava um rapaz magro, muito amarelo, em ceroulas e corpo nu, estendido numa cama, a ler, todo preocupado, um grosso volume que tinha sobre o estômago. Parecia deveras ferrado no seu estudo, porque até aí não dera fé do que se lhe passava em derredor.

— Olha! disse ao Paiva. — Creio que está acolá, sobre a mesa, por detrás do Comte. É um frasquinho quadrado, com rolha de vidro.

Dito isto, recolheu-se de novo à leitura, como se nada houvesse sucedido.