Chamava-se Mme. Brizard.

Era mulher de cinquenta anos, viúva de um afamado hoteleiro, que lhe deixara muitas saudades e dúzia e meia de apólices da dívida pública.



Estava ainda bem disposta, apesar da idade. Gorda, mas elegante com uns vestígios assaz pronunciados de antiga formosura. Tinha os olhos azuis e os cabelos pretos, no tipo peculiar ao meio-dia da França. Carne opulenta e quadril vigoroso.

Notava-se-lhe a boca, com um desses lábios superiores que formam como duas camadas; o que aliás não obstava a que Mme. Brizard tivesse um sorriso gracioso, e ainda tirasse partido da brancura privilegiada de seus dentes. Mas a sua riqueza e a sua vaidade era o pescoço, um grande pescoço pálido, cheio de ondulações macias a fartas.

Nascera em Marselha.

Depois de certa idade tornara-se muito caída para o romantismo: desde então apreciava uma noite de luar; dava-se à leitura prolongada de poetas tristes; fazia-se mais infeliz do que era de fato, e contava a todos a sua história. — Um romance!

"Aos quinze anos saíra da família pelo braço de um diplomata russo, que a idolatrava; — ia casada. O russo tresandava a genebra e recendia sarro de cachimbo; ela abominou-o logo, abominou-o entre uma enorme corte de adoradores fascinados por sua beleza e sequiosos por um de seus sorrisos; era, porém, honesta: — conservou-se pura e fiel ao marido."

Mme. Brizard quando chegava a este ponto de romance, abaixava os olhos, levando lentamente o leque à boca para disfarçar um suspiro.