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J. de Alencar

deitei-me e fechei os olhos, para não ver a noite adiantar-se, as estrellas empallidecerem e o dia raiar.

Tudo estava sereno e tranquillo; as aguas nem se moviam; apenas sobre a face lisa do mar passava uma aragem tenue; que dir-se-hia o halito das ondas adormecidas.

De repente pareceu-me sentir que a canôa deixára de boiar á discrição e singrava lentamente; julgando que fosse illusão minha, não me importei, até que um movimento continuo e regular convenceu-me.

Afastei a aba do capote e olhei, receiando ainda illudir-me; não vi o pescador, mas á alguns passos da prôa percebi os rolos de espuma que formava um corpo agitando-se nas ondas.

Approximei-me, e distingui o velho pescador, que nadava, puxando a canôa por meio de uma corda que amarrára á cintura, para deixar-lhe os movimentos livres.