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J. de Alencar

Seus grandes olhos negros fitavam em mim um d’esses olhares languidos e avelludados que afagam os seios d’alma.

Um annel de cabellos negros brincava-lhe sobre o hombro, fazendo sobresahir a alvura de seu collo gracioso.

Tudo quanto a arte tem sonhado de bello e de voluptuoso desenhava-se n’aquellas formas soberbas, n’aquelles contornos harmoniosos que se destacavam entre as ondas de cambraia de seu ropão branco.

Vi tudo isto de um só olhar, rapido, ardente e fascinado; depois fui ajoelhar-me diante d’ella, e esqueci-me á contemplal-a.

Ella me sorria sempre, e se deixava admirar.

Por fim tomou-me a cabeça entre as mãos, e seus labios fecháram-me os olhos com um beijo.

— Ama-me, disse.

O sonho esvaeceu-se.