- E que idade tens tu?

- Eu vou fazer quinze.

- Bom, - fez o empresário - vamos vê-la dançar o negócio, mas só.

O maestro fez soar os primeiros acordes, e ela empinou-se, e como estava sendo observada, exagerou, caricaturou a dança num delírio que era uma pândega, brandindo a sombrinha e gritando away! Naturalmente, então, nós começávamos a rir, quando um empregado trouxe desdobrado um papel da Justiça para o ensaiador.

Embaixo, na platéia, um magote de agentes secretos e de soldados da polícia olhava o ensaio.

- Quem é aqui a Etelvina dos Santos? - indagou o ensaiador.

- Sou eu, sim senhor. Ainda esses canalhas!..

- É, o juiz manda entrega-la aos agentes. Você é menor, vai ser depositada numa casa de família.

- Imbecis! Já me mandaram buscar três vezes à casa da Chica. Não querem deixar a gente ser o que deseja. Mas eu os arranjo!

Todo o pessoal do teatro, coristas e carpinteiros, atrizes e atores, não teve uma pilhéria. A pequena tomou o seu ar mais arrogante, desceu à platéia, sumiu-se no terraço com os agentes, como quem vai esbofetear alguém.