e assim girando vertiginosamente, com os seus dois pés finos e estranhos, parecia uma flor de prata, uma estranha parasita caída dos espaços naquele ambiente de névoas. As palmas rebentaram num chuveiro. Ela parou, abriu os braços, deixou escorregar vagarosamente os pés, tão devagar que parecia ir-se afundando, até que caiu no grande écart, a mão na testa, sorrindo. O público, porém, enervado, queria mais, batia com as mãos, com os pés; as mulheres nos camarotes erguiam-se e Verônica tornou a aparecer, fazendo gestos de agradecimento que eram como súplicas de amor.

- Dances américaines! - disse.

E imediatamente, no miúdo compasso da orquestra, o seu corpo, da cinta para baixo, começou a desarticular-se, a mexer. Os pés estavam no chão, rápidos, havia sapateados e corridas; as ancas magras cresciam, aumentavam rebolando; o ventre ondulava; aquele corpo que fugia e avançava com meneios negaceados, confundiu-se na harmonia dos compassos em adejos. A mulher desaparecia numa exasperante combinação de sons gesticulados, de vibrações de cantárida, de crises danadas de espasmo. Era perturbadora, infernal, incomparável!

Quando ela acabou, o barão ergueu-se rápido.

- Vamos vê-la...

O conde Sabiani, que olhava para baixo,