Página:Collecção de autores portuguezes (Tomos I-IV).djvu/225

197


NÃO ME DEIXES!



Debruçada nas aguas d’um regato
    A flôr dizia em vão
A corrente, onde bella se mirava....
    «Ai, não me deixes, não!»

«Commigo fica ou leva-me comtigo
    «Dos mares à amplidão,
«Limpido ou turvo, te amarei constante;
    «Mas não me deixes, não!»

E a corrente passava; novas aguas
    Após as outras vão;
E a flôr sempre a dizer curva na fonte;
    «Ai, não me deixes, não!»

E das aguas que fogem incessantes
    Á eterna successão
Dizia sempre a flôr e sempre embalde:
    «Ai, não me deixes, não!»

Por fim desfallecida e a côr murchada,
    Quasi a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
    Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flôr enleia,
    Leva-a do seo torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
    «Não me deixaste, não!»